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Mitos e verdades sobre o Autismo

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por desafios persistentes na comunicação social e pela presença de comportamentos repetitivos, padrões restritos de interesse e particularidades sensoriais, com início precoce e grande variabilidade clínica entre indivíduos. No Brasil, os resultados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo IBGE, identificaram 2,4 milhões de pessoas com diagnóstico de autismo, correspondendo a 1,2% da população, ou aproximadamente 1 em cada 83 indivíduos. Na faixa etária de 5 a 9 anos, a prevalência é de 2,6%, o que equivale a 1 em cada 38 crianças. Os dados reforçam a relevância do tema e convida a sociedade a olhar com empatia, atenção e cuidado para crianças e suas famílias.

Hiago Melo, psicólogo e doutor em Neurociências explica que a literatura reforça que não há um único perfil de autismo, mas um amplo espectro de apresentações que pode incluir desde dificuldades leves de adaptação até quadros mais complexos. Segundo o especialista, que também, é diretor técnico-científico da NeuroSteps, empresa especializada na gestão de terapias e atendimento a crianças com TEA, a compreensão dessa heterogeneidade é hoje um dos elementos centrais para orientar diagnósticos mais precisos, intervenções adequadas e terapias com impacto real no cotidiano das pessoas autistas. Abaixo, o especialista lista mitos e verdades sobre o TEA.

1.Existe uma dose ideal de terapia para todas as crianças — MITO

A procura crescente por programas intensivos de intervenção reflete um movimento global em busca de melhores oportunidades de desenvolvimento para crianças com TEA. No entanto, especialistas alertam que a simples expansão de horas de atendimento não assegura melhores resultados clínicos. “A efetividade da intervenção está diretamente associada à qualidade técnica, à adequação metodológica e à clareza dos objetivos funcionais de cada criança”, explica Hiago. O relatório da comissão The Lancet (periódico médico científico, reconhecido mundialmente pela publicação de estudos que orientam decisões clínicas e de saúde pública) sobre o futuro do cuidado e da pesquisa clínica em autismo destaca que ainda há lacunas significativas sobre para quem, quando e com qual intensidade cada abordagem terapêutica funciona, enfatizando que é imprescindível alinhar intensidade à real necessidade clínica.

2.Cada profissional pode trabalhar de forma independente — MITO

Quando profissionais de diferentes áreas atuam sem coordenação, surgem inconsistências metodológicas, menor generalização das habilidades e sobrecarga para as famílias. O diretor da NeuroSteps explica que a recomendação internacional é que saúde, educação, assistência social e cuidadores atuem em parceria articulada, com comunicação contínua e compartilhamento de objetivos terapêuticos.

3.Se o tratamento está em andamento, não precisa mudar — MITO

Outro ponto fundamental envolve o monitoramento de resultados clínicos. A literatura científica destaca que o acompanhamento apenas anual não oferece informações suficientes para ajustes terapêuticos eficientes em programas intensivos. “A avaliação deve ser sistemática, com acompanhamento frequente de indicadores objetivos, permitindo ajustar estratégias e otimizar os esforços de aprendizagem”, reforça Hiago. Essa prática reduz o risco de manutenção de terapias que não demonstram progresso significativo, evitando desperdício de recursos e frustração das famílias.

4.A participação da família aumenta os resultados terapêuticos — VERDADE

Para o psicólogo e doutor em Neurociências, é consenso que a participação ativa da família potencializa os resultados, já que grande parte dos avanços relevantes ocorre fora do consultório ou da sala de atendimento. Segundo o especialista, quando responsáveis são orientados e apoiados para implementar estratégias no cotidiano, observa-se maior progressão na comunicação funcional, no repertório adaptativo e na autonomia da criança. “Essa parceria contínua entre equipe terapêutica e família contribui para que os ganhos sejam sustentáveis ao longo do tempo e alinhados às necessidades reais da vida diária”, diz.

5.O objetivo principal da terapia é apenas reduzir sintomas — MITO

O foco atual não está apenas na redução de sintomas, mas no desenvolvimento de competências essenciais para o bem-estar: autonomia, inclusão escolar e comunitária, participação social e possibilidade de que a criança desenvolva seu potencial de forma plena ao longo da vida.

As evidências apontam para um novo padrão de cuidado em TEA, baseado na articulação entre a intensidade dos serviços e o rigor metodológico na aplicação das práticas que possuem respaldo científico. “Para que as intervenções gerem impacto real, é fundamental garantir fidedignidade na execução dos programas terapêuticos, supervisão especializada contínua, protocolos bem estruturados e integração entre equipes multidisciplinares”, explica Hiago, para quem esses elementos permitem que as decisões clínicas sejam orientadas por dados objetivos, com monitoramento dos indicadores que realmente importam para a autonomia, independência e qualidade de vida.

Sobre o especialista

Dr. Hiago Melo é psicólogo, doutor em Neurociências e Diretor Técnico-Científico da NeuroSteps, empresa brasileira que integra tecnologia, educação e serviços voltados à qualificação da gestão das terapias especiais. Atua no desenvolvimento e implementação de modelos baseados em evidências, conectando dados clínicos, operação e qualidade assistencial para aprimorar os resultados de crianças com autismo e outros transtornos do neurodesenvolvimento.

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