Os moradores do Cipó, distrito de Embu Guaçu, na região metropolitana de São Paulo, contam com apenas duas linhas de transporte coletivo para chegar à capital paulista: a 226 e a 012, ambas com destino ao Terminal Grajaú, na zona sul.
Há um mês, a empresa Intervias Miracatiba, responsável pelo transporte na cidade, retirou os cobradores da linha 012 que faz destino final no bairro do Cipó. Em 2017, a Agência Mural mostrou que essa prática tem sido adotada em outras cidades há sete anos.
A dupla função de pilotar e cobrar as passagens foi criticada por quem paga para utilizar o transporte. “Se com cobrador já demorava agora sem eles a coisa piorou, porque toda hora o motorista tem que ficar parando para dar troco e isso só aumentou o tempo de viagem”, questiona o manobrista Hamilton Fonseca, 45.
A linha 012 passa de uma em uma hora no horário de pico.
Pedro Miguel, 27, usa esse ônibus para ir ao trabalho há dez anos. Segundo ele, o corte dos cobradores “é apenas a ponta do iceberg”. O problema maior está nas condições dos ônibus ofertados. “Na maioria das vezes eles mandam carros sucateados com vazamentos e em dias de chuvas o povo que paga”.
Ainda de acordo com Pedro, com a suspensão dos cobradores aumentou o tempo de percurso. “Entro no ônibus no ponto final às 7h45, antes chegava 8h25 no máximo 8h30 no Grajaú. Agora pego o ônibus no mesmo horário e estou chegando 8h50”.
Com medo de se identificar, uma cobradora afirmou que teme que o mesmo possa acontecer na linha 226 em que trabalha. “Tem a necessidade do cobrador, como o motorista vai olhar as portas, vai olhar o retrovisor, cobrar, colocar quem está com cadeira de rodas para dentro do carro e depois seguir viagem?”, diz.
Outro impasse, segundo funcionários, é que boa parte dos passageiros ainda paga em dinheiro a passagem. “E isso atrasa a viagem, e os fiscais não querem saber, aí se ficar rodando atrasado perdemos o horário de janta”, lamenta um motorista. “Seria mais fácil se todas as linhas trabalhassem apenas com cartão”.
Procurada, a Miracatiba não respondeu sobre os motivos que levaram a retirada dos cobradores.
*Por Rubens Rodrigues / Agência Mural Folha de SP