A prefeitura de Embu das Artes deixou de executar um serviço público em benefício de toda a população, dever da administração, para realizar “favor” para um particular, um ato ilegal, além de cometer crime ambiental, na manhã desta sexta-feira (23). O governo Ney Santos (PRB) pôs servidores para trabalhar em uma obra da Casa da Bênção no Jardim Santa Bárbara, inclusive funcionários depositaram terra e entulho na beira do rio que passa atrás do templo.
Um produtor do VERBO flagrou quatro funcionários municipais e três a serviço do governo, da Imbulix Ambiental – Locação e Caçamba, contratada da gestão Ney, no imóvel da igreja. A reportagem registrou o caminhão parado em frente e uma máquina carregadeira (bobiquete) já dentro da propriedade, trabalhando a todo vapor – locados com dinheiro do contribuinte. Estava também no local um carro placa branca (DBS 7789) do almoxarifado da prefeitura.
Depois do abre e fecha do portão da igreja em intensa movimentação no local para receber o “pessoal” do “benfeitor” governo Ney, os funcionários da prefeitura (de uniforme verde característico dos servidores de Embu) e os prestadores de serviço passaram a fazer a limpeza de todo o terreno da igreja, sem serem importunados – em certo momento do “favor” feito, com o portão aberto, eles conversavam tranquilamente, um até estava sentado com a perna estirada.
Não bastasse o uso ilegal do ente público, a máquina foi utilizada para levar terra e entulho para ponto do terreno à beira de córrego, sem qualquer muro de contenção. Nem foi preciso cair chuva para empurrar o material para o já degradado rio, o leito já apresentava cor marrom dos detritos, em cristalino crime ambiental – o VERBO andou no curso d’água. Ironicamente, na mesma rua ficam a Cetesb (companhia ambiental do Estado) e a Polícia Ambiental.
Conforme apurou o VERBO, os funcionários e o maquinário executavam serviço em local público no Parque Pirajuçara, quando o chefe da equipe recebeu uma ligação. Era o chefe-de-gabinete de Ney, pastor Marco Roberto – o homem que tem o poder dado pelo prefeito para dar ordens aos secretários e realmente manda na Secretaria de Serviços Urbanos. Ele teria falado para os servidores pararem tudo o que estavam fazendo para irem trabalhar o dia todo na igreja.
A Casa da Bênção é uma igreja evangélica umbilicalmente ligada ao vereador Gideon dos Santos (PRB). Ele é suplente, mas está na Câmara desde quando o titular Júlio Campanha (PRB) se licenciou para ser secretário de Cultura, em junho. Gideon ocupou a vaga em troca de votos do grupo político Casa Rosada aos candidatos de Ney a deputado. A manobra fracassou. Júlio chegou a pedir exoneração na semana passada para voltar à Câmara, mas recuou após pressão de Ney.
Gideon mantém relação com a Casa da Benção como verdadeiro reduto ou curral eleitoral, e atua para expansão da igreja em Embu, pelo tipo de serviço executado. O parlamentar devia fiscalizar para impedir o ilegal “favor”, uma das práticas comuns adotadas pelo governo para ter apoio de vereadores. No dia 31 de outubro, Gideon propôs projeto de lei para incluir no calendário oficial de Embu o dia 22 de março como aniversário da Casa da Bênção. Teve aprovação.
OUTRO LADO
Procurado pelo VERBO, Ney silenciou. Também contatado, Gideon disse “eu sou sim da igreja” e falou primeiro que ia “verificar e te passo”. Em seguida, respondeu: “Não pedi, não [o serviço]. Eu vou ver com a diretoria da igreja”. Na sequência, falou: “Eu acabei de falar com o responsável da igreja no local, ele acabou de me falar que contratou uma empresa”. Questionado sobre o pessoal da prefeitura realizar o serviço, ele disse: “Eu não sei, não estava lá, não vi”.