Como foi a entrevista de Sergio Moro ao ‘Roda Viva’
“Tinha que colocar o número 6 bilhões de reais em um pôster e distribuir. É esse o tamanho do saque que foi feito na Petrobras”
27 de março de 2018
(Foto: )

O juiz federal Sergio Moro concedeu na noite desta segunda-feira sua primeira entrevista ao vivo em quatro anos de Operação Lava Jato, ao programa Roda Viva, da TV Cultura. No programa, que marcou a despedida do colunista de VEJA Augusto Nunes após cinco anos como âncora da atração, o juiz falou do panorama das investigações, de suas perspectivas em relação ao combate à corrupção e, indiretamente, dos processos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Moro disse torcer para que o Supremo Tribunal Federal (STF) “tome a melhor decisão” no caso do petista e reiterou sua defesa enfática pela execução das penas a partir da condenação em segunda instância. O magistrado defendeu que, caso o tribunal reveja seu atual entendimento, os brasileiros cobrem de seus candidatos a possibilidade de reinstituir a prisão provisória por meio de uma proposta de emenda à Constituição (PEC).

“Tenho esperança de que o precedente não vá ser alterado. Se o STF rever esse antecedente, temos de pensar em uma opção. Pode-se cobrar dos candidatos a presidente uma posição sobre corrupção. Pode-se restabelecer a execução de pena por emenda constitucional”, afirmou.

O juiz da Lava Jato alegou ainda que apenas cumpriria as ordens do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) caso venha a determinar a prisão do ex-presidente. Condenado a 12 anos e um mês de prisão, Lula pode ser preso a qualquer momento caso o Supremo rejeite seu habeas corpus preventivo, cuja discussão será retomada no próximo dia 4 de abril.

Entre outros temas, Sergio Moro ainda negou que tenha pedido desculpas por ter tornado pública uma polêmica gravação entre os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff (PT). O magistrado também falou sobre as críticas por receber auxílio-moradia, as acusações contra ele feitas pelo ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran e as prisões preventivas.

Veja também  Lula é condenado na Lava Jato a 9 anos e 6 meses de prisão no caso do triplex

O programa ficou acima de quatro pontos de média de audiência (contra picos de 1,5 ponto em dias normais) e foi o assunto mais comentado nos trending topics mundiais do Twitter. A bancada rotativa do programa foi composta pelos jornalistas João Caminoto, diretor de Jornalismo do Grupo Estado; Sérgio Dávila, editor-executivo do jornal Folha de S.Paulo; Fernando Mitre, diretor de Jornalismo da Rede Bandeirantes; Daniela Pinheiro, diretora de Redação da revista Época; e Ricardo Setti, jornalista e escritor.

Eleições

O juiz Sergio Moro falou sobre as suas perspectivas para as eleições de 2018: “Eu vejo bons candidatos. Outros nem tanto. E outros que mereçam um juízo maior de censura”. Ele não nominou ninguém e não comentou sobre possíveis pretensões políticas para o futuro.

Sergio Moro critica “mania” dos brasileiros de procurar um “salvador da pátria, num dom Sebastião que vai vir e expirar nossos pecados”. Instado a manifestar uma preferência sobre um candidato para o pleito de outubro, não se posicionou.

O magistrado defendeu que os eleitores cobrem seus candidatos a defendam projetos de lei que reinstituam a prisão em segunda instância caso esta seja revista pelo STF.

Habeas Corpus de Lula

“Espero que o Supremo Tribunal Federal tome a melhor decisão”, diz Moro sobre habeas corpus preventivo do ex-presidente Lula. O juiz afirma que prisão em segunda instância vai além da Lava Jato: “Tem peculatos milionários, desvios de dinheiro da saúde e da educação, que fazem muita falta para a população, e outros casos, como estupradores e pedófilos. Isso só no meu local de trabalho”. “Passaria uma mensagem errada, no sentido de que não cabe mais avançar.”
Acordão? Não. O juiz Sergio Moro diz que não acredita que haja um “acordão” para proteger o ex-presidente Lula (PT) no STF. “Eu não posso acreditar em uma hipótese dessa”, afirmou.

Veja também  Família Ser Humano agradece participação do público em evento

Moro relembrou que, no acórdão em que condenou Lula a 12 anos e um mês de prisão, o TRF4 já determinou a execução da do ex-presidente quando estiverem esgotados todos os recursos na segunda instância. “Tenho que cumprir a ordem do Tribunal Regional Federal”.

‘Sou apenas um cumpridor da ordem’, diz o magistrado sobre a possibilidade de prender o ex-presidente Lula (PT). “Eu não tenho nem a opção, de cumprir ou não cumprir”.

Lava jato

Moro relembrou o começo da operação e como foi puxado o “fio” da corrupção na Petrobras. Um esquema de lavagem de dinheiro que esbarrou na política quando se descobriu que um doleiro recebia dinheiro de empreiteiras e repassava a empresas de fachada, em nome de um diretor da estatal. Ele está se referindo a Alberto Youssef e a Paulo Roberto Costa.

Salário

O juiz Sergio Moro, que apesar de ter imóvel próprio recebe auxílio-moradia de 4.378 reais por mês, ressalvou que a imprensa tem “o direito de questionar”, mas volta a argumentar que o salário dos magistrados não é reajustado há três anos e que a legislação obriga que isso ocorra anualmente. O magistrado argumenta que esse questionamento ocorre porque o Brasil é um país de grandes desigualdades, mas que a situação tem que ser analisada “de maneira mais abrangente”.

Foro Privilegiado

Questionado sobre o Supremo Tribunal Federal (STF) e a lentidão com a qual os processos contra políticos correm na Corte, Moro disse que o foro privilegiado “não tem funcionado” e defende sua revisão. O juiz também cita uma ação, em tramitação no próprio STF, que deve restringir este foro.

Prisões preventivas

Moro defendeu o uso de prisões preventivas. Citou o exemplo da Odebrecht, que só desmontou seu “departamento de propinas” mais de um ano depois do início da Lava Jato, quando seu presidente, Marcelo Odebrecht, foi preso. “A prisão preventiva é excepcional e tem que ser excepcional. Mas, para mim, esse era um quadro de excepcionalidade”.

Veja também  Após despacho de Moro, desembargador do TRF-4 volta a determinar que Lula seja solto

Vazamento dos áudios

“Jamais pedi escusas”, disse o juiz sobre a polêmica da divulgação de uma conversa entre a então presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2016. Moro se defendeu e alegou que os áudios não dizem respeito a fatos privados da vida de ambos.
“Foi uma decisão que eu tomei pensando estar fazendo a coisa certa. O ministro Teori entendeu que não e revisou”, completou.

Caso Rodrigo Tacla Dúran

“Já falaram de excessos de rigor, mas nunca de desonestidade”, diz o juiz da Lava Jato. Para ele, Rodrigo Tacla Durán é “apenas, um mentiroso”. Foragido na Espanha, Durán acusou Moro de receber valores indevidos através de um amigo para favorecer delatores da operação. Na entrevista ao Roda Viva, juiz diz acreditar que é apenas uma tentativa de afastá-lo do caso.

Polícia Federal X Ministério Público Federal

Relacionamento entre Justiça, Polícia Federal e Ministério Público Federal “já foi mais harmonioso”, reconhece Moro. Juiz completa que, no entanto, as entidades trabalham bem em Curitiba.

Por Veja

Crédito: Veja
Sérgio Moro, o juiz responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba, no Paraná,
Presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), desembargador federal Carlos Eduardo Thompson Flores
João Pedro Gebran Neto, desembargador do TRF4 e relator do processo contra Lula, manteve a